Café em alerta: tarifas dos EUA levam a pressão no mercado e aumentam a volatilidade, diz Hedgepoint

Compartilhe:

Da Redação (*)

Brasília – O café, uma das commodities mais consumidas no mundo, voltou ao centro das atenções — desta vez, por conta da proposta de uma tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Como maior produtor global e principal fornecedor para os norte-americanos, o Brasil está no centro dessa tensão comercial, o que tem gerado instabilidade nos preços e incertezas no setor.

Até o dia 16 de julho, os contratos futuros do arábica e do robusta apresentaram alta, impulsionados pela preocupação com os impactos das possíveis tarifas. No entanto, especialmente o robusta perdeu força nos dias seguintes, com o avanço das negociações entre Brasil e EUA e o aumento da oferta dessa variedade.

Internamente, os produtores brasileiros estão cautelosos. A comercialização segue em ritmo lento, com vendas abaixo dos níveis médios para o período. Essa desaceleração também tem afetado as exportações, que estão abaixo dos patamares registrados na safra anterior.

Nos Estados Unidos, o consumo de café permanece elevado: uma pesquisa recente da Associação Nacional do Café (NCA) indica que cerca de 66% dos adultos consumiam café diariamente em janeiro de 2025, com média de três xícaras por dia. Esse padrão de consumo estável sustenta a importância estratégica do produto nas relações comerciais entre os dois países.

Reflexos do tarifaço nos preços no mercado americano

Segundo Laleska Moda, analista da Hedgepoint Global Markets, o impacto das tarifas já começou a se refletir nos preços internos americanos. “O Índice de Preços ao Consumidor subiu em junho, e a perspectiva é de que os importadores americanos repassem os custos adicionais aos consumidores finais. Isso levou muitos a antecipar embarques do Brasil no início do mês”, explica.

Com a entressafra em outros países produtores, o Brasil se destaca no fornecimento do arábica, o que ajudou a impulsionar os contratos futuros, chegando próximo a 310 c/lb. Porém, com o avanço da colheita, houve um recuo nos preços.

Os futuros do robusta, que chegaram a subir 8,8% em 14 de julho, também perderam força no fim da semana. Em paralelo, o presidente do Cecafé, Marcos Matos, afirmou que não há intenção de suspender o fornecimento de café para os EUA e destacou que o governo brasileiro está empenhado em manter o diálogo.

Desde abril, a NCA dos EUA negocia com representantes do governo Trump para tentar incluir o café brasileiro na lista de produtos estratégicos — o que permitiria isenção da nova tarifa. Até o momento, contudo, não houve acordo.

Apesar de 77% da safra brasileira já ter sido colhida e não haver riscos climáticos imediatos, o cenário comercial indefinido mantém o mercado instável. Em junho, as vendas de arábica ficaram em 29% e as de robusta, em 35%, ambas abaixo da média histórica de 38%.

As exportações também refletiram esse movimento mais lento. O Brasil embarcou apenas 1,8 milhão de sacas de arábica em junho — uma queda de 26,9% em relação ao mesmo mês de 2024. Já as exportações de robusta, embora acima da média, caíram 42,2% em relação ao ano anterior.

Enquanto as negociações entre os países seguem em andamento, o setor cafeeiro brasileiro permanece atento. A definição sobre as tarifas poderá impactar diretamente os preços no mercado internacional — e, consequentemente, o valor do café na xícara do consumidor.

(*) Com informações da Hedgepoint Global Assets

Tags: